quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Velho do Restelo: pernambucanidade e lirismo

Oxe! É coisa nossa, visse?



A galera de outros estados que me perdoe, sei que Luiza ama imensamente todo mundo, mas preciso dizer que Velho do Restelo - faixa 14, que fecha com chave de ouro maciço a playlist do novo disco, Sobre Amor e O Tempo -, só com som, consegue ter cheiro, cor e jeito de Pernambuco. A canção é uma parceria da galega com Nelsinho Botega. Modéstia à parte, nossa cantora nasceu no Rio, criou-se em Sampa, mas tem um pézinho no Recife, que a gente sabe! A presença cativa da lôra no carnaval da terrinha não me deixa mentir.
Pra começo de conversa, a percussão arretada em Velho do Restelo me leva logo pras ruas do meu Recife Antigo, em pleno carnaval, seguindo os Maracatus de Baque Virado. Como todo bom pernambucano é enlouquecidamente apaixonado pela terra, eu elegi essa música como a melhor faixa do Sé7imo quando ouvi o trechinho inicial do teaser 5 da série Luiza Possi Em Estúdio. "Bicho, é um Maracatu!", pensei. E aí depois se junta a toda essa explosão percussiva aquela guitarra rasgada. Arrepio. A cabeça vai diretinho pro movimento Manguebeat, que levantou a bandeira da diversidade cultural e teve como ícone nosso eterno Chico Science. Era Pernambuco cantando para o mundo. O Mangue tem por base o Maracatu, misturando-o ao rock e ao hip hop.
Por razões óbvias, Velho do Restelo se torna uma canção ainda mais especial para os recifenses. Falo pelo menos por mim. Difícil vai ser ficar sentada na cadeira do teatro, quando Luiza vier pras bandas de cá com a turnê do novo disco e essa música começar a tocar.

E esse tal velho, quem é?


O Velho do Restelo é um personagem criado por Luís de Camões

Pra quem não sabe, eu explico. Até porque, eu também não sabia. O Pai Google que me contou. O Velho do Restelo nada mais é do que um personagem criado pelo português Luís Vaz de Camões, em sua obra poética Os Lusíadas. Sabe as aulas de Literatura no Ensino Médio? Pois é.
O Velho seria uma espécie de metáfora, representando os reacionários e conservadores, que à época de Camões, não acreditavam no sucesso dos descobrimentos portugueses, com a difusão das grandes navegações. Sabendo disso, a compreensão da letra da música Velho do Restelo, de Luiza Possi e Nelsinho Botega, fica muito mais clara. Como por exemplo, no trecho: "Hoje eu tive um certo pesadelo com o velho do restelo / Que queria me pegar / Falou pra eu tomar muito cuidado com o mar não navegado / Eu podia naugrafar".
A expressão "velho do restelo" hoje em dia é muito usada para fazer menção às pessoas pessimistas e conservadoras. A canção do CD Sobre Amor e O Tempo então, usa a metáfora da metáfora, para dar um chute no baixo-astral de gente derrotista que possa estar ao nosso redor. É hino, gente! Vamo fazer feito a menina que canta o amor e levar isso pra vida!

P.S.: Além da coisa toda da pegada de maracatu, que remete a Pernambuco, essa música me ganhou ainda mais quando soube de toda essa coisa de Os Lusíadas. É que meu incomum nome, "Natércia" - que me foi dado em homenagem à minha avó materna -, foi criado por Camões, assim como o tal Velho do Restelo. O poeta se apaixonou por uma moça rica de Portugal, chamada Caterina. Como os pais dela não aprovavam o romance, ele fez um anagrama, misturou as letras do nome da amada e escrevia seus poemas a Natércia, a "jovem ninfa", como ele dizia em sua obra. Tenho motivos de sobra pra me apegar violentamente a essa canção. E já me apeguei!

Veja a letra completa de Velho do Restelo

Hoje eu tive um certo pesadelo com o velho do restelo
Que queria me pegar
Falou pra eu tomar muito cuidado com o mar não navegado
Eu podia naufragar
Alertou a minha desobediência a quase inocência
Que eu tenho pra cantar
Eu sei que esse velho não é bobo
Mesmo assim eu sigo em frente sem medo de errar
Abre a porta da frente, deixa ela entrar
A menina que canta o amor
Protegida de Iemanjá
Espelho d'água, olhos do mar
Só ouve coisa bonita, a menina de Iemanjá
A mentira, a fumaça, a carcaça
Tudo isso vira massa
Com data pra acabar
O velho é um gigante adormecido
E mesmo com ele caído, eu não posso vacilar
Por isso eu vou buscar a proteção
Com a batida e oração lá no canto de Iemanjá
Eu sei que esse velho não é bobo
Mesmo assim eu sigo em frente sem medo de errar
Abre a porta da frente
Deixa ela entrar
A menina que canta o amor, protegida de Iemanjá
Espalho d'água, olhos do mar
Só ouve coisa bonita, a menina de Iemanjá

Nenhum comentário:

Postar um comentário